terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pedrinhas de brilhante

Ele buscou o meu colo como se aquilo fosse habitual. Causou-me, contudo, bela surpresa e uma certa lisonja. Sem saber o que ele esperava, sua cabeça enconstada quieta sobre minhas pernas, enquanto as mãos balaçavam ritmadamente em frente ao seu rosto, comecei a acariciar-lhe os cabelos e a cantar. Cantei a canção infantil mais bonita que conheço: "Se essa rua, se essa rua fosse minha...", trocando a parte do "para o meu, para o meu amor..." por seu nome. Foi quando, então, vi um sorriso apacerer timidamente em seus lábios, sossegando suas mãos inquietas. Repeti a canção. Uma, duas, cinco vezes. Ele estava atento. De repente, enquanto cantava, vi seu rosto se virar em direção ao meu e sua mão vir em direção à minha face, oferecendo-me um toque desajeitado, que pretenciosamente chamei de carinho. Não parei de cantar, mas estava dividia entre a alegria de receber aquele olhar e aquele "carinho" e a angútia de pensar que se ele tivesse recebido esse colo que lhe dá lugar de sujeito na primeira infãncia, poderia suportar o mundo sem ter que recorrer ao autismo.

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