sexta-feira, 1 de abril de 2011

Carta I

Querido,

tenho que começar dizendo que eu gosto de você. Mais do que deveria - e gostaria.  E foi por isso que, passados 8 meses resistindo, sucumbi ao seu jogo de sedução. Você não tem idéia de como essa escolha - a de ficar com você - foi difícil para mim. Eu que julguei que nunca seria a outra. Já tentei te dizer que fiz isso porque pensei prioritariamente em mim, em como me agradaria te tocar, sentir seu cheiro, experimentar seu beijo e ter você mexendo em meus cabelos. A emoção que senti no nosso primeiro beijo, aquele tremor incontrolável, a sua barba delicadamente arranhando meus lábios, eu entorpecida pelo seu cheiro - aquela emoção eu jamais vou esquecer.
Mas não vou ficar me justificando. Hoje tenho que te dizer que estou triste, frustada, decepcionada e preocupada. E pode até parecer que de tudo a tristeza é o pior desses afetos. Pois acredite: hoje não é. Para a tristeza me preparei desde o dia em que topei estar com você. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde, por mais que eu não quisesse, eu teria que te deixar. Apenas em meus devaneios pensei que poderia ter você só para mim. Na realidade eu sabia que você nunca a deixaria para ficar comigo. Contudo, na minha fantasia, julguei que eu decidiria quando seria a vez de me entristecer. Julguei que eu decidiria a hora de te deixar. Mas você, por mais que não tenha querido me deixar, fez com que eu tivesse que antecipar a hora do fim. E foi dessa antecipação que veio a minha frustração. Confesso que eu gostaria de poder estar com você outras vezes. Mas você me enganou. Ficou noivo! Privou-me da única coisa que poderia me oferecer: a honestidade. Quando você se apresentava, dizia que tinha namorada. E me fez escolher entre ficar ou não com um cara que namora. Pensei em muita coisa para decidir. Fantasiei que talvez o seu namoro estivesse ruim, que seu encantamento por mim era legítimo, que quem sabe se a gente se der bem? Foi pensando nessas coisas, e no que eu queria - que era estar com você - que tomei a decisão. Mal sabia eu que escolhia um cara que não existe. Porque você não era um cara que tem namorada. Você era um cara que daí a uma semana viajaria para o exterior para pedir a namorada em noivado! Qual motivo você teve para não me dizer que minha escolha seria entre ficar ou não com um cara que vai noivar? Talvez pensasse que assim eu não ficaria com você. Pois tenho que te dizer que não tenho a resposta para isso. Não pensei na questão certa, mas na outra. E não é agora que vou pensar.
Hoje sei que marcando o seu compromisso com a outra, a oficial, esqueço mais uma vez de mim em nome dos meus valores. E não quero nem mesmo que você me apresente outra saída. Quero te esquecer. Porque estou decepcionada. E de tudo que tenho sentido, este é o pior afeto. Ficar sabendo da sua viagem na véspera foi horrível, e ali eu já senti uma dor, que talvez fosse até pressentimento. Mas minha paixão era grande. Julguei que você estava cuidando de mim. Melhor saber na véspera do que na volta, pensei. Quando, então, na volta da curta viagem, você ligou perguntando se as notícias sobre você e sua namorada eu queria saber de você ou dos outros, senti um segundo de euforia, pensando que talvez as notícias fossem boas para mim. Mas antes de eu pensar em rompimento você me falou no compromisso que honrou (dá para falar de honra aqui?) com outra mulher. Tristeza, frustração e decepção. De pronto! Imediatos! E minha tênue alegria se esvaindo pelo ralo. Eu quis chorar. Engasguei até o final do telefonema. Depois de desligar, a preocupação. Será que você fez tudo cronometrado mesmo, para me sacanear? Porque se você fazia investidas a meses, nós sabemos que elas foram mais fortes de algum tempo para cá. E por que você me escolheu para essa brincadeira? Então o interesse não era real? O que, de fato, te motivou? Dúvidas sofríveis para alguém que nunca sabe se - ou o quanto - pode despertar o desejo no outro. Resta te mandar à merda - do casamento!